domingo, 22 de junho de 2008

GOSTO DE POLÍTICA

Parece estranho, gosto de discurso. Sou capaz de ficar horas vendo a campanha eleitoral, um líder falando com elegância me atrai. Eu assisti a muitos discursos do velho Brizola, quando ele falava na campanha eu assistia, até o fim, os discursos. Tenho na memória o Tancredo Neves dizendo “não vamos nos dispersar”.

Participei de muitas inaugurações, abertura de exposições agropecuárias e visitas dos governadores. Apreciava ver os líderes que tinham tranqüilidade e capacidade de dominar a platéia que ficava encantada. Acostumei com aquele protocolo, chega equipe precursora, assessores, secretárias, que vão anotando as autoridades presentes. Foi nestes momentos que aprendi a ver os famosos tapinhas nas costas, inimigos se abraçando, o tio Deba me disse um dia “em política o pior inimigo é o próprio companheiro”.
Nestas ocasiões reparei que o povo, fala mal, mas adora os políticos, quer receber um aceno, um aperto de mão, um olhar. Se exibe, diz que os políticos foram á sua casa pedir apoio. Fica muito contente quando o prefeito, o vereador, o deputado comparece a uma reunião, toma um cafezinho com eles. Reunem-se alegremente e fazem debates, apostam nos candidatos, gostam de dizer que entendem de política, afirmam que seus candidatos vencem por grande margem de votos, torcem por eles, trabalham voluntariamente, emprestam as casas e fazendas para encontros, churrascos. Dizem orgulhosos que estão trabalhando para o candidato do local. Ser amigo dos políticos conta muito nas comunidades, representa poder e influência. Muitas vezes se afirmava, precisamos de um bom político, agora não temos deputado, coisas assim.
É preciso um numeroso grupo de simpatizantes cada vez que um político vai a uma reunião, o assedio é cruel, mais de cinco minutos e já começam os pedidos, “tenho um genro, utalo homi bão, quem sabe arranja um....” hora crítica, o asessor deve imediatamente interrromper com um celular na mão, dizendo é o senador, o político com um aspecto grave começa a conversar, se afasta sugerindo um assunto sigiloso e importante e faz um aceno, anota aí. Mais um caso, e a equipe tem de apelar, “tá na hora do avião” e lá se vão, voltarão em cinco anos ao mesmo local. Questão de honra político sempre chega em cima da hora, ou atrasado, depois que a equipe já verificou tudo é claro. Está sempre com pressa, o mestre de cerimônias, em geral um amigo, já vai avisando que o importante líder tem um compromisso a seguir, poupa assim o homem das desculpas e previne a fuga dos pedidos importunos.
Então a autoridade maior vai falar. Os assistentes ficam prestando atenção, respeitam o homem, ninguém precisa pedir silêncio a reverência é natural. Ele começa citando as lideranças, depois vai ligando os assuntos e por fim, bem treinado, atinge um ponto que a platéia espera, acelera a entonação das palavras e por fim deixa um espaço para os aplausos. Isto acontece na hora em que se anuncia a novidade, um novo projeto, uma lei, sempre tem uma novidade em andamento, você já ouviu falar de carta na manga, os ouvintes esperam isto porque não atender.
Inicia com uma folha na mão, com os nomes, em seguida, larga aquele papel e domina tudo sem qualquer tipo de ajuda, é lindo de ver.
Por conta da atividade profissional, ao longo dos anos, fiz muitas e muitas apresentações, as conhecidas palestras. Por isto tive de estudar o assunto, comprei livros, fiz alguns cursos que envolviam demonstrações, motivação para algum tipo de resultado. Uma parte do aprendizado foi prático vendo a política funcionar. Gosto da política.

terça-feira, 17 de junho de 2008

IMAGEM PERCEBIDA

Velha barbearia na Boca Maldita, um rodado companheiro dá uma retocada no cabelo. O que vai ser, máquina dois nos lados e uma ajeitada manual no resto, nem pensar em cortes modernosos.
Rola um conversê alegre, bobagens em geral, aquilo que se fala, para todos, frio, futebol. Entra e sai de gente, aqueles clientes que se acham, corto aqui ha vinte anos, dizem, essas coisas. Os barbeiros se gabando, também, contam fofocas de gente famosa, ou daqueles famosos da paróquia, casos e mais casos. Para conhecer um lugar, fique por ali esperando sua vez, em meia hora saberá de muitas coisas, iniciar conversa é muito simples. Manifeste surpresa com qualquer coisa da rua, a razão do apelido Boca Maldita, por exemplo, diga que ficou curioso, umas pessoas estavam falando. Pronto meu amigo, você passará o dia contente, cada um, dono de cadeira, correrá para contar a “sua história”. Enquanto um fala, tem uma fila de outros esperando para mostrar outra versão e ficarão discutindo horas e horas. O amigo entendeu, manifeste surpresa, curiosidade, é arriscado achar graça, criticar, você pode sofrer a pena máxima do lugar que é o silêncio, nada mais cruel.


Utilize esta prática para conversar com os motoristas de taxi, eu tava um dia destes no Tamboré em Sampa, precisava agüentar um táxi mais de quarenta minutos até Congonhas, não tive dúvidas, uma conversa mole passa o tempo, perguntei por uma ponte cheia de cabos pendurados que tinha visto na TV. Daí em diante foi um tal de abobrinhas, a respeito da corrupção da obra, o resultado, fiquei sabendo onde caiu a estação do metro e tudo mais. Quando vi tava chegando.
Voltando ao cabelo finalizando, o serviço, solicito um aproach, nas sobrancelhas, ouvidos, nariz, impressionante, precisa, sua aparência se arruína em poucas semanas. Começo a entender o porquê das mulheres gastarem metade de sua existência cuidando de si mesmas.


De repente, chocante, a imagem que o barbeiro mostra, de como o corte ficou na parte de traz da cabeça, é, se podemos assim nos expressar, totalmente desaprovada. Não me refiro ao trabalho esmerado do profissional, mas a imagem no espelho, realidade brutal, causa estragos no amor próprio do mais fleumático companheiro.


Quase não acredito, pareço assim, melhor sou assim, quero dizer fiquei desta forma.


Me ocorre uma expressão que escuto nos famosos cursos de desenvolvimento, é a conhecida “Imagem percebida”. Funciona assim, não importa o que você pensa sobre a empresa, o importante é como a firma é percebida pelas pessoas.


Eu tinha uma Imagem percebida melhor de mim mesmo, me ocorre pensar é assim que as pessoas me vêem, será que eles têm a mesma percepção.


Vou gastar mais tempo cuidando de mim mesmo, se as mulheres podem.

domingo, 15 de junho de 2008

INVEJA SINCERA

Sentimento sincero, intenso, acompanha o homem, sempre.

Falsamente queremos iludir os outros, e a nós mesmos, reprimindo este impulso milenar.

É válido sentir inveja, uma energia estudada desde a antiguidade, mostrando os imperadores cobiçando o reino alheio.

Precisamos aprender a lidar com os pensamentos invejosos.

Que ramo científico poderia nos ajudar, a sociologia, talvez.
A religião tenta, vamos reconhecer, mas é uma abordagem maniqueísta

É a inveja que faz um pobre trabalhador exaurir-se em horas extras. Um político olha ansioso o próximo cargo.

Assim se comporta o ser humano, quer o que não possui.

Fui olhar um campo que um conhecido comprou, não demorou e nos apoiamos na cerca divisória e passamos um tempão invejando os pastos do vizinho.

Aqui encontramos uma explicação de como o comunismo faliu, esta semana acabou a igualdade de salários em Cuba, prática que destruiu com a pobre nação. Uma sociedade igual, não tem inveja, logo ninguém precisa fazer nada melhor que o outro, você não vai ganhar mais dinheiro, ter casas melhores, já pensou nisto, é de enlouquecer. Lembra das fotos antigas de milhares de chineses todos com a mesma roupa. Claro que não deu certo.

Sinto inveja quando vejo um bom livro, queria ser capaz de fazer igual.

É um sentimento construtivo, sinaliza que a gente quer ser melhor.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

MEIA LUA CRESCENTE

Gauchinho da fronteira aventurou-se na praia, sem prática, passou manhã em alegre função, sol e mar. Não era costume ficar em atividade, com pouca roupa, naquela olheira de sol. De certo é assim mesmo, achou graça naquela moçada, biquínis lindos, sentia atração pela “parte de cima” .
Parecia que ia ficar bonito, igual aqueles exibidos residentes. Vindo de campos, quando tirava a camisa parecia um nobre inglês, sangue azul correndo em veias salientes na pele branquela. Não tava dando certo, depois do banho, explodiu a realidade cruel, queimada completa,de segundo grau. Febre, dor, solução “local” passa vinagre, caladril, foi por fim levar um puta xingão do medico do pronto socorro. Pagou geral, quase uma semana, de água mesmo conhecia os banhos de açudão em final de tarde.
Ressabiado, agora trata o mar como numa guerra de guerrilha, saí para o banho e logo se enfurna em quiosques, guarda-sóis, varandas de bar. Aprendeu o valor das camisetas e chapéus, não importa a moda, o que interessa é proteção. Até pegou ponto, aprendeu a lidar.
Habitué, na altura do quiosque número oito. Ficou chegado com o sistema. Batata, batata, batataaaa, é picolé....., cerveja, coca, água, sanduíche natural. Todo dia baiano, cabelo rastafári, oferece tatoo, tatoo, hena, hena. Um álbum com amostras de desenhos, dragão, borboleta, beija-flor, rosa, hummm. Não gostou dos modelos, presunçoso, alegou, já tenho muitas marcas, da vida. O baiano deixou para lá, cansado de “turista faceiro”. É assim, insistiu, fui pisado pelo cavalo, em cima da alparagata, dedão sem unha, feio. Peito afundado, passou uma carroça em cima, salvo por milagre. Foi abrir um caroço de pêssego e a faca cravou na palma da mão, coisa de guri. Dedo mindinho, torto, trator sem direção hidráulica deu um safanão quando a roda atingiu um cupim. No colégio tinha apelido de “pé de matar formiga em carreiro” um pezão largo e comprido, de tanto andar descalço no meio do barro da lavoura de arroz. Braços e rosto tomados por sinais, o pessoal dizia que eram “manchas solares”, agravou-se a situação até que um médico mandou “destatuar” o homem. Num inverno brabo a tia foi botar água fervendo em uma garrafa para aquecer a cama, a garrafa quebrou e derramou água fervente em cima dos dois joelhos, produzindo copiosa lesão.
Chegamos, então, no caso de um boi que refugou na entrada da pêra e atropelou levando tudo por diante. Era um pampeano brasino, aspado, tipo guzerá, passou num pulo assustador bufando, na confusão o braço esquerdo do companheiro levou chifrada. Ralou em curva a pele, deixando larga marca registrada. A meia lua crescente, sinal da lida, espécie de tatuagem rústica, não apaga nem com laser. Agora o gauchinho, não anda sem camisa, tem vergonha do peito afundado, em compensação só camisa sem manga, capaz de percorrer shoppings inteiros para achar uma bonita, tem de realçar meia lua crescente no braço esquerdo, começa na ponta de cima do bíceps e percorre lateralmente o encontrar o tríceps, explica orgulhoso.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

CAOS AÉREO

Morava na Bomba de Candiota, estação ferroviária 60 km de Bagé, sem luz elétrica mas todos gostavam de ler, uma vez por ano, depois da colheita tinha visita na casa do vovô Rosso em Caçapava do Sul, minha terra natal. Uma semana inteira fazendo tachos de figada, geléia de uva e perada. Meu serviço sempre foi fazer fogo e mexer o tacho durante horas com uma gigantesca pá de madeira, no início a chimia pulava e saltava queimando os braços. Na volta, a camionete vinha carregada de coisas e, principalmente, todos os exemplares antigos da Seleções do Readers Digest, a tia assinava, e mais todas as revistas antigas de O Cruzeiro e outras. Alguns anos depois um dono de posto de gasolina, amigo nosso, soube deste vício, e nos deu uma imensa coleção de livrinhos de faroeste, alguém sabe o que é isto, se acreditam eu lia um por dia, Ei Jack !!!

A hora de ler ficava para a sesta, a popular sestia, durava até duas horas no verão. Como o dia é muito longo no verão do Sul, não havia pressa, podia ler, dormir, e comer melancia. Todos liam, as revistas iam passando, ao final cada uma era lida e relida várias vezes. Uma propaganda me encantava era da Varig, geralmente tinha uma ilustração de elegantes pessoas e alguma coisa relacionada com ter muita classe, ou pessoas de classe é que escolhiam a companhia. Certo que a foto ou ilustração incluía cena do aeroporto. No meu imaginário voar era uma coisa para pessoas muito ricas, influentes e poderosas. Aquelas propagandas causavam grande admiração e influenciam meu comportamento até hoje. Posso dizer que a propaganda funcionava. Esta curiosidade me levava a olhar instintivamente para os aviões passando. Mais tarde eu gostava de ir para os aeroportos, geralmente quando chegavam políticos e conhecidos.

Passou o tempo, cheguei á universidade, imediatamente passei a me inscrever em toda a atividade do Projeto Rondon. Então veio a primeira viagem de verdade, Porto Alegre a Goiânia, pela Varig acreditem. Novato, aprendi umas regras, passei frio. Serviam sucos, um estudante de veterinária, o Jonas, pediu suco de tomate, se deu mal, e refeição quentinha muito legal. Um serviço muito atencioso, dava gosto participar daquele mundo, as ilusões dos comerciais tinham certo sentido. Muitos anos depois, sexta-feira, telex urgente, segunda-feira curso em Brasília, quinze dias, a companhia escolhida foi Varig embarquei em Curitiba, viajava a noite toda de ônibus, de Lages(SC).Lembro de uma vez, inverno brabo, amanheceu zero grau geando, no avião tirei a pesada jaqueta de couro, quando cheguei em Recife, descia no pátio do aeroporto, aquele bafão, trinta graus em pleno julho. Resultado no hotel eu estava carregado de abrigos na mão e suando direto.

Veio o tempo dos cursos “à distância”(hoje se chamam MBA), perto de 400 h, provas duas vezes por ano. Escolhi um em Minas Gerais, mais uma vez embarquei em Curitiba até Rio de Janeiro, depois Belo Horizonte era um 727, estiloso, gostava dele, anotava os modelos, dois anos seguidos. Aprendi mais uma coisinha, numa destas lá se foi, para sempre, linda máquina fotográfica reflex, lentes intercambiáveis e alguns filtros, estava na bagagem despachada. Numa das viagens, atraso, perdi a conexão, fui na companhia e, outra lição, ouvi não somos responsáveis por espera de outras empresas, a regra é sempre conexão com a mesma companhia.
Nesta altura eu tinha, rodado um tanto, cada local que passava, conhecia cada detalhe do aeroporto, ia para o deck, ver o movimento, passeava nas lojas, chegava bem cedo para “viver” aquele clima. Gostava das escalas, fiquei acostumado com a rotina, cada caminhão que chega, trator com malas, aquele vai e vem de aeromoças.
Aquelas propagandas do Seleções, sempre recorrentes, cada assunto relacionado nos jornais dou uma olhada. Pois assim iniciaram comentários sobre problemas, crises, dívidas, renegociações relacionadas com minha companhia preferida. Um vazio no setor, foi-se a Vasp, Transbrasil, entraram novos atores, preços atrativos. Cabe um comentário favorável, surgiram as promoções, decidido, incluí São Paulo na rota turística, museus, pinacoteca, gigantescas livrarias e sebos, minha filha fazia mestrado, achamos todos os livros do John Steinbeck em inglês, era preciso, outro aprendizado, acabaram as refeições quentes, nem um cafezinho, o preço era de ônibus leito.
Um dia anunciaram, balcões vazios, daquela cor inconfundível, parecia incrível mas estava acontecendo.

A vida continua, precisava ir a São Paulo, olhava a internet, de repente, aquele símbolo e uma nota, oferta especial, feriadão na metrópole, R$ 110,00 ida e volta, cliquei imediatamente. Enfim novamente, nos ares, literalmente, voltamos a ver a rosa dos ventos, sabemos é quase só o nome de fantasia, os problemas ficaram para trás. Ainda assim, o nome é forte, a marca que encantou a nação, e, porque não dizer, era um genuíno orgulho do Rio Grande Amado, podem acreditar serviu um singelo sanduíche quentinho. No exterior era quase uma embaixada, dava alegria ver. Me aventurei em viagem externa pela Transbrasil, que coisa, não tinha equipe de terra, “terceirizava” o serviço de outra empresa, não falavam português, na maior parte o balcão, simplesmente o último, longe, ficava abandonado. Outra lição, na viagem seguinte escolhi a companhia nativa do país visitado, ours-concurs, petiscos delicados, vinhos encantadores, entrada, prato principal e sobremesa, foi lindo. Vacilei, oferta, e lá fui para a terra dos hermanos, o serviço, de novo um caso, a viagem era curta, tinha partido da capital pampeana.

Na pátria mãe foi uma década de sandubas gelados, amendoins e barra de cereais, ufa. Deus seja louvado, a fila andou, finalmente algo “quente”, faz lembrar antigo filme do John Wayne com uma expressão, “não se deixa um viajante partir sem uma refeição quente no estômago”.