domingo, 20 de julho de 2008

NEM FAMA NEM FORTUNA

Chegou convite, 25 anos da formatura, a universidade nos concedeu uma comenda, fomos jubilados.

Mais um pouco, 30 anos de formado, faz lembrar uma crônica de alguém, “assim se passaram trinta anos” eu imaginava que era do José Luiz Borges, na web, não consegui confirmar.

Podemos dizer sem vergonha, não atingimos fama ou fortuna. Num tempo chegamos a sentir aquele chamamento para competir, fazer carreira, um impulso que nos remete a querer primeiro a fama, depois a fortuna. Gostinho da fama, modestamente, chegamos a ter amostra de como é, escrevia no jornal semanal e fazia comentários numa rádio. Então, veio estação de TV para nosso município, aproveitando uma reunião no hotel da cidade um repórter apareceu e queria entrevista, aceitei. No final da outra semana tinha festa da associação dos agrônomos, eu era secretário, estava por lá. O pessoal começou a dizer, então agora é artista, eu nem sabia, a TV colocou a minha entrevista como propaganda do jornal local, dizia assim “notícias, entrevistas e nesta parte eu estava comentando a reunião” foi legal a turma se divertia de montão. Assim quando tinha seca, granizo, neve, os repórteres vinham saber se tinha influência na agropecuária da região. Tava encaminhada esta parte.

Naquela ansiedade para resolver a outra questão, a da fortuna, lembram, eu inventei de trocar de trabalho, troquei, não deu riqueza como eu queria, em compensação lá se foi a incipiente fama que eu gostava. Disseram aqui, não tem espaço para estes sonhos, pode pegar sua mesa e pronto, pior, quando fui conferir mal chegava ao salário anterior. Ganhar pouco já foi de matar, mas perder o prestígio cuidadosamente construído na comunidade doeu de verdade. No limite fiquei baqueado, o médico disse é stress, que coisa, me deu uns calmantes. Ataca daqui e dali, fui parar numa academia de yoga, aquilo sim representou fortuna. Minha mestra, tinha fama, natural, pessoa encantadora, aprendi dura lição, tive de reconstruir a estima a partir da humildade, trabalho simples e disciplina.

Nesta lida passaram os trinta anos, fama e riqueza se converteram em satisfação com as mais singelas coisas, contemplação da natureza, estar com a família, rir, partir em viagens distantes, retornar. Também não deixamos nada para trás, “levamos parelho”, sem esta de dizer “quando me aposentar vou descansar”.

O destino quis assim, ainda não acabou, nos sentimos desafiados a continuar avançando, quem sabe, um dia, a fama pelo menos.