quarta-feira, 15 de outubro de 2008

OUTRA GREVE COMO ESTA E ESTAREI ACABADO

Greve nacional, já é a segunda semana, parecia que ia bem, todo dia assembléia no sindicato, depois um chopp e conversas gerais. Complicaram-se as coisas, acompanhe o relato de um simples dia.

Primeiro corri um pouco na canaleta do bi-articulado (se você não é de Curitiba merece uma explicação: trata-se do corredor de ônibus local), os residentes apreciam correr por ali, cheguei com uma garrafa de água e me atirei no sofá. Preguiça geral, fiquei zapeando nos canais da TV a cabo.

Sem experiência em folguedos, deixei a tela aberta , foi quando chegou sentença “precisa arrumar um pouco a casa”. Não estava preparado para aquele duro teste. Devia ter dito de cara, tem reunião para o plano de contingência. Começou a luta, empurra tudo que é possível para os cantos, limpa a poeira, passa um pano úmido com um produto qualquer de limpeza, nem vou imaginar qual é, tem dezenas, para cozinha, piso, banheiro, vidros, gorduras, roupa leve, tira- manchas, amaciante e tantos mais. Acaba com outro produto, é para dar um cheirinho. Esportivo, fui para a atividade, um apto que eu chamo de super mini, não pode ser tão difícil, logo termina, negar ajuda não é, digamos, prudente. O conceito de limpeza e organização que eu tinha sofreu golpe fulminante, “não é assim” e pronto lá veio monstruoso retrabalho, lembra o que significa esta palavra? Foi uma provação geral para enfim receber um “de acordo” na minúscula salinha de estar. Enquanto isto intermináveis procedimentos estavam em curso no banheiro, eu fiz de conta que estava atarefado com a salinha e nem apareci, só cuidava o vai e vem atrás dos inúmeros produtos.

Desolado olhei para a cozinha, coisas do jantar anterior e café, amontoados. Nem esperei ordem, fui lavar, mas descuidado molhei o chão que ficou cheio de marcas de chinelas para todo lado. Mais encrenca, não estava previsto, além disto tinha muitas regras para o quesito das louças, copos de vinho tem de ficar em cima de um pano seco. Eu tentei secar imediatamente, não deu certo, encheram de fiapinhos, gerou inconsistência.

“Já que você está aqui”, quando ouvir esta frase, levante-se prontamente e saia em disparada, é claro que vem convocação para uma tarefa qualquer. Por exemplo, já viu como pesam estes colchões modernosos, tinha que virar o sacana, balançou, ameaçou derrubar tudo, resultando em lesão perigosa nas costas. A lida da casa ainda estendeu-se por largo tempo, dei por resolvida a minha parte e liguei a TV de novo, debaixo de uma chuva de protestos.

Chegamos tarde no “kilo” para o almoço, numa delicada conversa, se existe coisa que enerva as mulheres modernas é arrumação na casa, qualquer expressão que passe de um “pois é” pode ocasionar uma tempestade tropical.

Queria voltar para casa, o sol caprichoso entra no quarto, é tão gostoso cochilar na sesta. Mas foi preciso, ainda, buscar roupas na lavanderia, um par de botas no sapateiro e pagar o IPTU numa casa lotérica, a fila era gigantesca, bancos em greve já viu não é?

“Sabe que só você faz aquele chimarrãozinho”, assim perdi uma parte dos leões caçando no Serengueti, é o destino.

Arrematei o dia fatídico deixando o leite ferver e derramar sobre o fogão, falha de conformidade que enfurece a mais fleumática das companheiras.

Agora, depois de uma semana de “férias” estou com os nervos em cacos, adiei a aposentadoria para depois de 2014.
Selso Vicente Dalmaso