quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Aniversariando na Corporação

Aqui nos impressiona a escala dos acontecimentos, o cafezinho, por exemplo, sempre lembra o intervalo de um grande congresso quando todos vão para a cantina, banheiro, fumódromo, enchendo tudo de gente barulhenta. O treino para o alarme de incêndio, parou o bairro inteiro, parecia que ia haver uma passeata, foi lindo.

Todo dia tem alguém de aniversário, então depois de vários tipos de solenidades, firmou um padrão, tudo é padronizado, na sexta-feira chamam os companheiros para uma canção, adivinha qual é, parabéns a você, isto depois de umas brincadeiras, sobre quem você levaria para uma ilha deserta, e outras coisas. É tudo muito alegre, o mestre de cerimônias surgiu espontaneamente, toca um sininho e vai passando nas bancadas chamando para aquele espaço conhecido como a curva do rio.

Depois, corados aniversariantes tem de abraçar e beijar centenas de colegas. Como se vê tudo muito amistoso, mas é com alívio que passa, o pobre escolhido suspira pensando, outro aniversário só no ano que vem. No limite alguns companheiros somem, pedem abono, retornando semanas depois, a maioria, no entanto, segue resignada para o evento.

Por vezes a turma das bancadas exige mais um tempo de tortura, levam imensas garrafas de refrigerantes e um monte de pasteis, coxinhas, bolos e mais parabéns a você. Em geral acompanhado de um monte de pequenos presentes, cada vez que um pacote é aberto eles dizem “óóóó” no meio de gargalhadas.
Me safei este ano, é que estava mudando a turma da ECOA e ocorreu um “vazio” no sistema, o meu mês, janeiro, passou batido.

Cheguei a pensar, eu mesmo vou me apresentar, até parece, precisa ? “Em sociedade tudo se sabe”, dizia o Ibraim Sued. Imagine aqui nas modernas bancadas, todos ouvem as conversas, os telefonemas, conhecem suas expressões e reações. Tenho um livrinho que eu trouxe da academia de Yoga, nesta obra diz simplesmente que não há necessidade de explicar como você é, tudo está “escrito” em seu rosto.
Chegou pelo correio, presente do irmão, uma análise numerológica, dez páginas, tudo o que o especialista pediu foi o dia do aniversário e nome completo. Guardei o trabalho, agora tem mais de quinze anos, de vez em quando vou conferir. Vejam o que diz do dia 22 de janeiro, “Para a numerologia, quem nasce em um dia 22, de qualquer mês ou ano tem um dia natalício mestre” bom para este rodado companheiro. Diz mais, não vou ter problemas financeiros quando envelhecer, por aí sei lá, vai demorar a fortuna, parece não ?

Nossa equipe soma forças com as bancadas vizinhas numa alegre confraria. Assim partimos decididos, depois do trabalho, para um simpático boteco aqui perto. Reza a lenda, a humanidade está duas doses atrasada, quando chegou a segunda cerveja a moçada estava embalada naquela conversa de mesa de bar, uma algazarra só. Eu desandei a contar histórias bobas da infância no interior, quando falo isto nas bancadas a turma sai de fininho dizendo que chegou o cafezinho e outras coisas. Foi assim o aniversário número 31 na corporação.
Selso Vicente Dalmaso