quarta-feira, 24 de setembro de 2008

SEU TERRITÓRIO É DE OUTRA PESSOA, TAMBÉM....

Como são as coisas, o destino se encarrega de arranjar sempre novidades. Sabemos que marcha, decidido, o projeto do segundo turno.

Mas que interessante, a mesma estrutura servirá para duas turmas. “It sounds good”, que lindo! “otimiza” o equipamento, não é mesmo? Significa dizer que, por exemplo, o mesmo local vai ser usado em dobro.

No lado prático, tem umas questões. Seu território agora é de outra pessoa, também.

Chegando, “ele” estranha a regulagem da cadeira, ninguém é obrigado a ter 1,90 de altura. Prático, já puxa tudo que é travinha e desenrosca o que mais tiver. Quando você retornar, vê se aproveita alguma coisa.

Em seguida empurra o monitor para léguas de distância, de repente mais jovem, não entende as pessoas que trabalham colado, pensa “deve ser prejudicial”, dá um nervoso, sabe lá. Automaticamente vai tateando aquelas teclas de regulagem do visor alterando tudo.
Outra coisa, levanta a CPU e deixa virada contra a parede da baia. Cada um tem seu modo, claro. Você volta e seu querido micro está zunindo nervosamente.
Um caso especial é o mouse, nem é de acreditar, mas é assim, ele é deixado cuidadosamente do lado do teclado, já vamos falar sobre este último, e na volta está fora do pad e raspa de modo irritante, ou desliza suavemente sobre a areia.
Não esquecemos do teclado, tratado com deferência, é silencioso, novinho. Na balada vai ficando melado de café, cheio de farelo de bolachas, já soa com aquele tec tec dos filmes.
Diferenças de estilo vão se destacando. Seu grampeador, velho companheiro, aparece repleto de grampos retorcidos, parece uma boca de tubarão com dentes espetados para todos os lados. O contrário também é possível, estes dias um lápis perfeitamente apontado estava milagrosamente disponível.
Paciência, a fila anda, um dia o micro fica ligado, mas “trava” numa tela escura, reset nele. Outro dia, assim que liga, manda mensagens, tipo “o micro foi desligado de modo inseguro”, e retorna uma série interminável de janelas “documento recuperado” deseja salvar, sim, salvar suas configurações, sim, ok, Yes, “atualizações concluídas deseja reiniciar agora”, não, não, e assim vai. O trabalho começa, então escutam-se expressões de ódio, “mas que mania de alterar tudo”, ou mais fúria incontida, “onde estão os meus arquivos”, “não salva mais nada”... virou um esporte, todos acham graça.

Já tem um calendário pendurado na parede interna, aparece outro, na frente do teclado, cheio de rabiscos e avisos. Dilema cruel, você joga o seu fora? joga fora o do parceiro? para não ofender deixa os dois por ali, o pessoal passa e não resiste, tome piadinha, precisa de dois.....

Outra coisa, a decoração da baia: reparamos que cada um tem um estilo, mas existem muitas formas de abordagem. Vejamos o costumeiro conflito, a companheira deixa dezenas de “motivos” femininos em destaque. Sua baia é recheada de florzinhas, fitinhas cor de rosa, violetas, mensagens do além e as últimas de um livro qualquer de auto-ajuda. Um bravo exilado, do Sul, toma o lugar, sua motivação é de campos, corridas de cavalos, poesias missioneiras... não combina, não é mesmo. Outro competidor do Sul, atua ali também, é chegado em surf, cercos de tainhas e casquinha de siri. Difícil conciliar com a cultura local...

Existe uma esperança, já se cogita um grande congresso, uma espécie de conciliação de contas, como aqueles famosos grupos para fechar diferenças de balancetes. Ali se formariam turmas para discutir uma forma de convivência, algo capaz de acalmar espíritos sensíveis feridos pela invasão do território.
Os residentes poderiam, assim, conhecer suas “almas gêmeas” de modo a acalmar aquela natural resistência. Um procedimento que equilibraria o fato de que o treinamento preparou, digamos assim, os recrutas, mas os velhos combatentes não estavam alertas para estes detalhes.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ELES QUEREM DORMIR COM AS VACAS


Insistente noticiário, os fiscais proibiram os peões de dormirem nos galpões, perto do gado, durante a Expointer. Todos os dias entrevistas, comentários.


Descontextualizada a situação virou tema para as mais divertidas piadas, no escritório ouvimos “você viu a gauchada tá no maior desgosto, não pode mais dormir com as vacas”, seguido das mais gostosas risadas, gente ficando tonta de tanto rir.


Eminentes autoridades, não estudaram o caso com profundidade, por exemplo a situação do cabanheiro no preparo de um animal para uma apresentação em certame nacional. Vamos colaborar um pouco neste propósito.

Modernamente o cabanheiro é um verdadeiro especialista, estuda e acompanha o crescimento dos selecionados, é um prático zootecnista. São estrelas cheias de manias e vontades, acostumam e obedecem ao treinador, e reagem à simples aproximação de estranhos, não se pode supor que um terceiro irá revezar à noite no cuidado. Ainda é comum enredarem-se, ficarem estufados pela inatividade, enfim só um experiente profissional mantém em condições um exemplar especial.


Tem outros fatores, é um campeonato, não existe confiança nos outros, não se deixa o “time” sozinho, querem vencer não é um simples esporte, tem dinheiro, negócios envolvidos, deixar os atletas sob risco desnecessário é bem ruim. Sensíveis, os animais sentem qualquer mudança, num torneio leiteiro, por exemplo, qualquer fator externo inesperado pode ser um desastre.


Na prática precisa dobrar a equipe, é simples os animais não podem ficar sozinhos, não podendo dormir por ali, uma parte da equipe tem de ficar acordada. No limite um proprietário resolveu, ele mesmo, passar a noite no galpão perto dos animais, enquanto seu empregado dormia.


Esta situação alterou uma tradição, verdadeira glória para os cabanheiros, passar temporada no parque de exposições, desfilar(eles mesmos) com seus competidores. É, tem uma apresentação, jurados, evolução, notas e troféus, lembra um desfile de escola de samba, existe um público, torcida e imprensa. Comparativamente o treinamento é feito nos galpões de estância, as quadras onde atua o peão. Alegorias e adereços são representados por modismos, jaquetas estilosas, boinas, chapéus, botas e lenços.


Era tudo uma grande festa, cuidar de um campeão, vencer com ele, sim porque se leva uma parte do sucesso. Quando um vence, quem está na órbita leva honrarias da mesma forma, a maior visibilidade é do proprietário, mas o cabanheiro tem méritos reconhecidos.