quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

CARNAVAL SOSSEGADO

“Desta vez quero um lugar calmo, vou descansar no carnaval”, as pessoas falam nas entrevistas.

Saímos em completa contramão, primeiro faltou luz no Afonso Pena, ficamos um tempo parados na fila sem ar condicionado, a companhia disse que nosso avião tinha ficado no “intenso tráfego de Sampa” .
Aquele olhar perdido na sala de embarque, de verdade ninguém tinha muita pressa, não haveria reunião ou coisa assim, a maioria de bermuda, então surpresa, um guaipeca malhado de preto e branco passou em marcha batida ao longo da pista, avisamos o “pessoal de terra” que fez um meio sorriso condescendente e nem se mexeu. Que desleixo, pensei, uma vez a imprensa noticiou um caso de horas atrás de um cão em Navega, vai ver que a preocupação com cachorros na pista de pouso não é pra tanto, cães não entram em turbinas, se fosse um caranchão era outra coisa. Pedi uma salada de frutas na lanchonete e fui premiado com um olhar de seca pimenteira, tipo, não tá vendo que isto é um café.
Duas horas mais tarde partimos para São Paulo, chegamos em Guarulhos em pleno sábado de carnaval, pegamos um ônibus até o Terminal do Tietê, amigo que multidão!! Só passamos em direção ao metrô, ali sim tranqüilo, trocamos de linha e descemos na Consolação. A Paulista um doce, ampla e limpa, toda nova, moderna que só.
Oferta só regular, também hotel na bela avenida central. Relativamente tarde ficamos por ali para o jantar, reparamos numa espécie de cinto de segurança em cada cadeira do restaurante. Em princípio comparei com um tipo de proteção para os bêbados do carnaval pelo menos não iriam cair no chão. Depois pensei num caso de proteção contra os espertinhos que se mandam sem pagar a conta, o garçom só liberaria depois de passar um cartão com tarja de segurança. Relatamos nossa impressão para o maitre, o serviço era à francesa, ele se divertiu com a situação, turista tem cada uma. Mostrou que era para a proteção das bolsas femininas e computadores pessoais, era isto.

Domingo na preguiça, perto de dez horas saímos em direção ao MASP meio que driblando um e outro morador de rua. Já no famoso museu a escala “deferençou” tinha bem assim uns vinte companheiros acordando e ansiando pelos primeiros cigarros, café, o que fosse. Passamos com um pequeno assédio, lá ficamos putos, o danado só abria uma hora depois, aí chegou outro assediante: um escritor amador com uma brilhante produção independente, poderia ceder por preço módico.
Nos enfiamos no metrô, saímos na Liberdade, uma feirinha de rua na maioria japinhas, muito legal, tudo que é porcaria, mais comidas e sei lá o que mais. Demos um look e fomos para as ruas laterais, aquelas que tem nos postais com umas lanternas típicas penduradas.
Por fim entramos num shopping popular, oriental, é claro, milhares de coisas, na minha impressão, tudo cacaria. Tinha vários andares, corredores estreitos, cheios de gente, turistas e outros bobos. Eu tranqüilo, “vestido para matar”, sem volumes em bolsos, coisa para se preocupar, cartões e documentos em carteira fina interna, já rodei mundo com ela. Lá pelo quinto andar chegamos na praça de alimentação oriental, na verdade um restaurante com tudo que é tipo de comida asiática, fria, quente, frita, crua, sopa, chá, uma loucura. Entrei numas, quero almoçar aqui, cara, de pronto arroz, branco, preto, integral, soltinho, empassocado, aquele antigo que o meu pai plantava e chamava de arroz japonês. Em seguida os macarrões, tinha um denominado coreano, parecia assim, uma coisa gelatinosa cor marrom, peguei um pouco, ao comer ele escorria para todo lado, eu nunca comi minhoca mas não pude evitar a comparação. Outro macarrão parecia transparente tipo gelatina incolor no início a impressão era que a travessa estava cheia de gelo picado, mas era um macarrão. Já conhecemos aqueles enroladinhos de algas com arroz e alguma coisa crua no meio, passamos por esta seção e nos dirigimos aos peixes, também não foi popular o pontos dos peixes crus, pareceu grossa a fatia, peguei um salmão chapadinho no ponto, foi legal. Rematamos com um chá digestivo que não sei o nome, eu conheci num restaurante em Curitibanos. Me arrependi que não peguei a sopa de soja, de repente deu um branco, depois eu vi que era apreciada por todos, vinha numa cumbuquinha simpática. No retorno passamos na feirinha e encontramos o monge que escreve caracteres e benze uns cartões, já falei numa crônica que está no blog, desta vez pedimos para ele dar uma bença num penduricalho para proteção do carro do Gus, ele rabiscou o nome do Gus e Sandra numa fitinha, ficou bonito, disse que vai dar tudo certo, cobrou doze contos. Exaustos voltamos para a sestia no hotel.
Não terminou o dia, ainda teve cinema na Rua Augusta e um chopp na Paulista. Que dia medonho.
Na segunda do Carnaval fomos almoçar na Vila Madalena, embalei nos chopps tava um calor legal, como perdemos o teatro fomos ver Operação Valquíria no cinema, não arrisquei a sessão que terminaria por volta da meia noite , teria que voltar a pé para o hotel, não era longe mas não é de abusar, não escapei de levar uma flauta, é a vida.

Dia de voltar, mas ainda demos uma volta na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, é um sonho, choveu. Pequeno tour de ônibus na volta até Guarulhos, conheci o Largo do Arouche, nome que sai em noticiários de São Paulo toda hora, é assustador, assim como o bairro Bom Retiro e Santa Efigênia. Agora já conhecemos o endereço de três teatros ali perto da Paulista, em algum outro feriadão vamos considerar, nosso método é fazer um turismo que inclua alguma coisa cultural e mais uma parte com aquelas coisas comuns, bares e restaurantes. Tudo sem muita intensidade, nada para cansar muito.
Nos jogamos nas cadeiras da sala de espera, numa divertida análise do movimento, coisa que sempre me encanta, a contemplação. Mas não é que a Florzinha descobriu um boteco com um chopp artesanal Devassa. Dava tempo para mais algum, e ainda suprema ironia, podia fumar e tocava um sucesso caipira paulista, mais uns canecos, 7 paus cada um, bom de verdade.
Terminaram as férias, ação até a meia-noite do último dia.

Selso Vicente Dalmaso