quarta-feira, 30 de abril de 2008

"Posperidade"



Hoje é muito comum ver caracteres japoneses em carros, camisetas, pastas escolares e tatuagens. De certa forma está na moda, assim como os pratos e sabores oriundos do Japão. Nesta linha vamos acompanhar a experiência que contamos em frente:

Feriado legal, a turma se mandou para Sampa, aproveitando ofertão casado, passagem na madrugada e hotel fino na baixa temporada.
O motorista do micro-ônibus,”sou o Ceará”, disse, simples, não conhecia a cidade, tava quebrando um galho, a firma não tinha outro. Alta noite parou, ali perto do Jockey e perguntou por um hotel num edifício grande. Gerou uma fúria expressa, foi mandado parar no pátio de um Supermercado e esperar o guia, aí sim do hotel, fomos comboiando. Chegando lá o Ceará ficou brigando com os equipamentos, o banho foi um caso, abria uma torneira e era água fria, tentava a outra e saia água muito quente, tomou banho frio dois dias ahahahah. Outra coisa, dividia o quarto com o guia da empresa de turismo, outro que não conhecia a cidade, tinha ido para ver como funcionava. No início tinha duas toalhas uma de rosto e outra de banho, como era, pequeno, se podemos nos expressar assim, pensou que a toalha de rosto lhe cabia por esta condição. Na seqüência dava risadas gostosas dizendo que um pessoal tinha esquecido bebidas numa geladeirinha, que sorte, pode isto? Bafão geral, motorista e guia sem prática, reuniu-se petit comitê, decisão: queremos outro guia, um que conheça a cidade. No outro dia chegou o prático, fora do padrão, parecia com um malandro, tinha uma ginga, falava gíria, cabelo alisado, gel e óculos escuros, sempre, dia e noite. Santo remédio, conhecia cada beco, arranjava estacionamento, ia passando pelos lugares, fazia sinais para os “donos da rua”, tipo assim, “vamo aliviá aí pessoal, eles tão comigo”.
Turma ligada na educação, o programa incluía, museus, pinacoteca, obras e mais obras, quadros, esculturas, literatura o dia todo. Eu de pirú, sempre de olho em botecos com aquela encantadora torneira dourada onde se enchem canecos de chopp e coisas assim. No terceiro dia fomos premiados: numa famosa esquina da Av São João havia um point com as tais torneiras, fui obrigado a chegar, tirar foto, e, beber uns copos gigantes de um refrescante chopp.

Nas “vagas” da agenda cultural, uma passada no centro velho, minhocão, Igreja da Luz e compras na 25 de março. Sem gosto por estas aglomerações, atendimento sem qualidade, nem pensei em negociar coisa alguma. Quando descobrimos que o mercado público era ali perto zarpamos direto. Gastamos um tempo nas bancas cheias de temperos do mundo inteiro, e mais aquelas bobagens todas, pastel de bacalhau, sanduíche de mortadela e depois aquela fatia de abacaxi cortado na hora, doce, muito doce.

No domingo de manhã alguém sugeriu: gente tem a feirinha da Liberdade. Foi o que bastou, nosso guia foi direto, era um programa dos mais simples, ele tava com os nervos em cacos, na noite anterior, de improviso, ele teve de achar uma pizzaria no Bexiga, todos palpitavam, essa não é boa, parece muito cara, sei lá o lugar, cabem todos, tem estacionamento. É que tínhamos ido ao teatro, lindo lugar, artista global, quando acabou, ninguém quis ir dormir, daí resultou o desgaste do guia para arranjar um lugar para jantar. Deu certo a idéia da feira, não tinha sido minha, havia um acordo tácito, só as mulheres mandavam, havia dois maridos, um professor e o guia iniciante, não tivemos condições de competir. Primeiro zanzamos pelo bairro, simpático lugar com o calçadão de luzes que sempre aparecem nos postais. Na feirinha todos se dispersaram, interesses diversos, comprando quinquilharias em geral, canecas, camisetas, chaveiros, ímãs de geladeira(verdadeira salvação de pobres excursionistas), de resto é o que fica de tantas aventuras.
Era numa pracinha, logo, os grupos começaram a cruzar, você ouvia “olha o que achei”, entre eles correu notícia “tem um monge budista que escreve o seu nome e uma oração, naqueles caracteres nipônicos”. Ele usava quimono preto, e aquele banda em volta da cabeça com alguma coisa escrita. Na verdade ele vendia um marcador de livro, podia ser vermelho ou preto. Em sua frente ele escrevia uma oração no marcador, perguntava o seu nome e rabiscava mais uns caracteres. Depois ele olhava para o freguês e dizia o que significava. Na fila eu fiquei cuidando como funcionava o sistema. Se a pessoa era idosa ele dizia, exe aqui hamonia, se jovem, exe aqui posperidade, meia idade, exe aqui paiz e assim levava dez reais cada marcador. Tenho o meu até hoje, é “posperidade”, exigi, ele queria me dar um de paiz, na minha ignorância em caracteres, parecia que ele desenhava as mesmas coisas e dizia o que cada um queria ouvir seguido de uma reverência. Sabe o que acontecia, todos saíam, felizes da vida, abanando o marcador de livro esperando secar a tinta.

Falei que a excursão era “em conta”, embarque em Guarulhos, seis horas da manhã. Calcule hotel no Morumbi, uma hora de ônibus, mais uma hora antes da saída, resultou em acordar três da matina, camarada o hotel serviu um café expresso numa salinha à parte. Mas valeu pela aventura, muito boa, na volta as pessoas diziam: vamos de novo, agora para outro lugar. Fiquei quieto, sei que isto não funciona, quando foram organizar um outro roteiro, nada mais combinava, claro é assim mesmo.

Viram o marcador de livro acima, é para estar escrito o meu nome e “Posperidade”, se alguém quiser colaborar e indicar que tipo de oração está registrado será bom.



sexta-feira, 25 de abril de 2008

Lanche natureba



Velha instituição se renova, é a feira livre na rua. Lá por volta de 1970 eu morava numa república em Pelotas com os irmãos. Cansados do arroz com alguma coisa, charque, guisado, salsicha, picadinho, começamos a ir numa feira que tinha na frente do apartamento. Assim passamos a incluir saladas e frutas na dieta. Nos últimos anos ficaram mais populares os sacolões, e alguns tipos de feiras permanentes. Estes tem um problema são um tipo de self service sem interação com o vendedor ou feirante.
Aqui visito regularmente no sábado, a feira do Juvevê. Local de confraria, conversas amistosas e um ir e vir democrático. É uma entidade, serve, em nosso caso, para conhecermos, de fato as pessoas que moram pelas redondezas. Ela atrai tipicamente os moradores do entorno, muitos se conhecem, falam sobre futebol e outras coisas. Os feirantes, por seu lado, verdadeiros mestres no relacionamento humano, brincam e ensinam coisas, como preparo de alimentos, se as frutas estão maduras, na maior alegria. Iniciamos entendimentos, compramos uma sacola, “I’m not a plastic bag” na cidade existe um propósito de substituir as sacolas plásticas de supermercados, eles tem sofrido multas severas.

Demorei na banca dos chás, tinha poejo, lembro de quando eu era um garoto, talvez, sete anos, um cavalo nosso escapou para o campo eu e meu pai fomos tentar trazer de volta. Na caminhada ele apanhou um punhado de poejo e pediu para eu guardar, era um ótimo chá para gripe - veja que cheiro bom - nunca esqueci. Trouxemos uns pacotinhos de verduras já cortadas, a preguiça dos tempos modernos impressiona. Queria comprar pinhão, mas lembrei que não tinha panela de pressão, parece uma coisa, ficou na república dos filhos. Poderia fazer um carreteiro, vi um charque de qualidade, mas a minha panela de ferro ficou numa destas mudanças de endereço, foi-se a velha companheira dos domingos. Eu me defendia no carreteiro, ficava horas preparando e conversando com quem estivesse em casa, é um tipo de socialização. Sempre tive influência da mãe ela tinha uma panelinha de ferro para fritar ovos e bolinho, jamais grudava.

Dia destes ataquei um pastel, sempre ouvi comentários sobre pastel de feira, resistia, depois que inventaram o colesterol, ficamos com poucas opções. Garanto, estava delicioso. O point do pastel é o mais concorrido, junta povo. Vendo esta situação fico com a impressão de que só eu me importo com esta história das gorduras. Nem me animo a olhar o salame “meia cura” levemente defumado. Antes se colocava direto, em cima das brasas, do fogão à lenha, acompanhava o café da manhã com polenta brustolada. Um novo tempo, todos de impecável uniforme branco, aquele boné regulamentar, tudo muito lindo. É assim com todos que lidam com alimentos para consumo imediato e do grupo das carnes.

Ontem, achei uma variante natureba para o lanche da feira. É a pamonha, feita na hora, muito saborosa. Eu aprendi a gostar deste produto, depois de uma pamonhada, no tempo do Projeto Rondon em Goiás, muitos sabores. Eu pedi uma salgada, é totalmente natural, só milho verde ralado cozido na água fervente. Sem qualquer indício de excesso de gordura, sal ou outras coisas. De longe tem um sabor de polenta. Mais uma vez comemos em pé na rua. Acontece que já começou, de leve, a campanha eleitoral. Desta forma, podemos ver que um aglomerado espontâneo como este, é como um comício de graça, não precisa promoção. Um político, cotado, não vai sozinho, primeiro vão dois carros com segurança e uns assessores. Eles se distribuem por ali, e tomam conta de umas mesas. Em seguida celulares disparam mensagens, pronto aparece o homem, que assim vai “encontrando” amigos como se fosse a pessoa mais popular do mundo. Tudo leva ao principal ponto, chegando perto do local mais concorrido, bancas do pastel e da pamonha, naquelas duas mesas estratégicas reservadas, dúzias de correligionários já se acumulam e fazem a maior festa como se fosse uma surpresa a presença do famoso. Imediatamente, alguém sugere um pastelzinho, claro ele aceita. Desta maneira, já por duas semanas eu, sem “equipe precursora” faço uma boquinha em pé mesmo.

Aqui vamos fazer um reconhecimento a esta planta natural da América do Sul, o milho, havia sido domesticada pelos índios. Morando em Balneário Camboriú uma das coisas mais gostosas da praia era o milho verde, muito bem preparado nas dezenas de bancas da praia. Diga-se feito em casa não fica tão bom, tentei várias vezes não deu bem certo. Mais uma vez, aperitivo rico, muito rico, fibras, amido, betacaroteno um pouco de proteínas. O milho verde se instituíu, como opção nas praias de todo o Brasil, sem qualquer tipo de propaganda. Quando os filhos eram pequenos, eu levava para a praia uma faquinha de mesa e cortava os grãos na fileira da espiga, era uma solução simples, porque eles não mastigavam direito e ficavam com dor de barriga. Todos adoravam o milho e seria impossível dizer hoje não ou coisa assim.
Abraços

sexta-feira, 18 de abril de 2008

"Sim minha Generala"



Muitos especialistas têm se dedicado a estudos do comportamento humano, mas ainda não vimos obras relatando as situações que temos encontrado. Mostramos então alguns exemplos.

‘O que está fazendo aí parado, porque não pega o pão de uma vez, precisa ficar olhando tanto”, idoso pega o pacote da frente e segue em silêncio a mulher que continua repreendendo-o pelo corredor do Hipermercado.


Eles escolhem mesa e sentam, a mulher chega depois com uma sacola, avalia a situação e decide mudar de mesa. Constrangidos a seguem sem reclamar na choperia do mercado público.


Pai e filho chegam na praia carregados de cadeiras, guarda sol, esteira, montam tudo no sol de janeiro. No tempo certo de tudo estar resolvido, aparecem mãe e filha, combinando, tamanco, biquíni, chapéu, fita na bolsa de praia, tudo amarelo. Ela “dá uma benzida” de protetor no filho e despacha. Depois passa longo tempo arrumando a filha, escova no cabelo, cuidadoso creme na mocinha, ajusta meticulosamente as alças do biquíni, bonezinho estiloso. Por fim chega o momento de cuidar de si mesma, novamente um demorado processo, cuidado extremo, tem um bronzeador para início do sol, spray umidificante, toalha imensa, esteira, cadeira reclinável e água sem gás. Pronto ela se instala, pega um livro e se concentra. Durante este tempo, aflito, o companheiro ficou ali pronto a atender qualquer necessidade. Aliviado, ele senta, olha para o lado, tem cerveja no quiosque, quem sabe, logo a mulher se vira e diz, “tá vendo eles”, resignado ele tem de levantar e ir pro sol cavar buracos na areia com as crianças. Ahahaha.


“João vem prá cá, que coisa, presta atenção”, situação na portaria do hotel, diante de todos mulher chama atenção do marido na excursão da terceira idade, brinca com as outras, se deixar ele é capaz de se perder, hehehe.


No shopping, os homens seguem as mulheres que vão passando de loja em loja incansáveis, sentam desolados naqueles bancos do centro do corredor, elas riem gostosamente, acenam de dentro da loja, enquanto a caixa, retira aquelas fitinhas de contas no cartão.


Amante da política, assisto a campanha eleitoral pela TV. Ninguem tem a coragem de manifestar qualquer tipo de apoio aos pobres seres humanos masculinos. Agora, defensores das mulheres, tem a varrer, dispostos, olhos brilhando de emoção, tem projetos de todo tipo para gestantes, delegacia da mulher, direitos e mais direitos.


No BBB, as queridinhas não se dignavam a fritar um ovo, foi tudo delegado para os marmanjos.


Um capítulo especial, redundante expressão, é para as novelas, ali aos homens foi destinado, em geral, o papel de malvados, alcoólatras, tolos e, digamos assim, passados para trás. Elas, altruístas e corajosas, empreendedoras até não poder mais.


Em colégios, as garotas dão a maior força para o uso de símbolos femininos, assim os meninos andam carregados de brincos, colares, anéis, pulseiras, essas coisas, acreditam nelas que coisa não.


De tanto levar bronca, os homens desistiram de pedir pratos ou sabores, no caso de pizza, é melhor não se incomodar, pensam, deixe que as mulheres se virem. Afinal, tem de ser como “elas querem”. O garçom, treinado, traz o menu para o cavalheiro, e elas já vão tomando “deixa eu ver o que tem”. Quando ele vem anotar o pedido e olha, novamente para o homem, seria, assim na escola deles, tem de se virar e escutar a companheira atalhar e decidir, raso, “salmão à belle moliere” para mim, “vê o que vc quer”, ahahahahah. A experiência mostra que se “outra pessoa” pedir um prato e não for muito bom, a gente deixa para lá, mas se foi você, não escapará de ouvir “claro tinha logo que pedir o mais barato” aahahahahaha. Quase esqueci da escolha da mesa, delicada situação, sensível mesmo, defensivamente faço de conta que estou colocando a chave do carro no bolso e espero que saia um “aqui tá bom” depois da sugestão do maitre, aí remato, sim, sequer cogito pedir outro lugar, já pensou se não dá certo.


Escolher o vinho, ainda é tarefa deles, coisa mais complicada, sabe-se lá tantos tipos, precisa curso, não esperamos tanto, as mulheres nem dão bola para isto, não conta.


Sobre isto, meses morando sozinho, percorrendo os restaurantes do centro, fazia análise dos pratos expostos, até comentava, para mim mesmo, a solidão tem destas coisas. Outro dia levei maior carão, “pare de falar com a comida, não sei de onde pegou esta mania”, é que tinha dito, “a dobradinha tá legal... hum feijão nadando na graxa..... agora um purezinho...sei lá este tipo de macarrão parece uns corozinhos que apareciam quando lavrava o campo”. É assim a vida. Os vizinhos de fila olharam para o lado e seguiram em frente quietos, eu também.


Acabei de ouvir um “arrume uma jantinha para nós”, vale dizer, coloque para esquentar o jantar, pratos na mesa, óleo de oliva e abra o vinho. “Sim minha generala” respondi, expressão que aprendi num filme desses, tinha uma revolucionária que dava ordens sumárias para seu amante, leve meu cavalo, e ele “sim minha generala”, tomou banho então venha dormir, “sim minha generala”.


Situações constrangedoras têm sido vistas diariamente, chama a atenção o comportamento despótico das companheiras. Intriga a passividade masculina, aparenta que cansados de briga os outrora valentes competidores desistiram. Em princípio sutis maldades minam a resistência dos mais bem intencionados. Depois, sem pena, fulminam as mais simples iniciativas, como a idéia de um happy hour num boteco qualquer, é preciso, para tudo, um referendo. Chega ao ponto que não se decide nada mais, no escritório corre lista de adesão para o churrasco de final de ano, a pobre estagiária vai ouvindo coisas como sei lá, vou ver em casa, precisa responder agora, depois eu vejo, amanhã dou resposta. Entendeu, precisa do referendo.
Seria por isto, quem sabe, que eles vivem menos. Talvez a longevidade menor se deva a trabalhos forçados, perigosos, cansativos ou uma vida de tensões. No início da vida em comum os homens, inexperientes, cometem imprudências como dar opinião sobre o corte dos cabelos, é muito arriscado. Hoje sabemos, quando a mulher chega do salão, a única expressão permitida é “nossa ficou lindo”. Iludem-se na procura de um padrão, mas o que é alegre e festivo num dia, na próxima semana resulta desastroso, confundem-se com os sinais recebidos.


Pensando em tensões é possível que tenham adquirido alguma síndrome que se relacione com a tentativa de compreender a alma feminina. Passadas algumas décadas de genuíno esforço adquirem um comportamento errático, não reagem mais.
A imagem acima registra o momento em que recebo a informação de que está faltando cerveja na mesa, resposta "sim minha generala".


abraços



Selso Vicente Dalmaso

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Dinheiro traz felicidade


Você planta arroz, não é mesmo.



Agora, pode confessar, sentia inveja do noticiário mostrando como os preços da soja, milho, boi gordo, leite e outros produtos cresciam animadoramente. Não é feio sentir inveja, é uma espécie de elogio, a gente quer ser igual aos que estão ganhando dinheiro, é natural, é válido dizer que ganhar dinheiro nos deixa felizes.

Olhando este gráfico podemos entender sua angústia, em janeiro 2.004 iniciou aquela atração fatal baixista até o nível sufocante de meados de 2.006. Atingido o piso começou um movimento de recuperação, passos vacilantes ainda. Analistas surpresos viram que iniciou a colheita e os preços se sustentaram, era a primeira vez em cinco anos. O cenário havia mudado, as cotações continuaram uma tendência de alta em plena safra.


De repente, notícias muito estranhas, o Uruguay comprando arroz no Rio Grande do Sul, tinha clientes externos e faltava produto. Que coisa, o mesmo acontecia com a Argentina, estima-se que estes países vão exportar bem menos do que a média histórica para o Brasil. Agora veio a explicação, o mercado externo está com baixos estoques e o preço subiu 75% nos últimos meses.


Mas e aquela demonstração de que o consumo arroz estava diminuindo no mundo inteiro, o Brasil era o único país não asiático a consumir arroz neste nível. Diziam que à medida que a sociedade fica mais rica consome outros produtos como macarrão, pão, nhoque, foie gras, bacalhau norueguês, sei lá o que mais.
Nestas últimas semanas surgiu um culpado, foram os biocombustíveis, pode isto, lideranças ufanistas com o biodiesel, agora, sem graça, explicam coisas sem sentido.


Retornando ao assunto daquele ciuminho chegou a vez dos outros sentirem uma dor profunda, a turma do arroz, vai bombar.

Repare neste gráfico, é dólar, amigo, não é de sentir um ciúme sincero, intenso, pois é. “Vejas as coisas como são”(Noel Guarani), também depois de anos penando.

Se o consumo de automóveis já estava uma coisa, agora o de camionetes vai partir para o puro mercado negro, GPS, bússula, e outras bobagens serão obrigatórios. Bom vai ser para os entregadores de Gás nos bairros, o que vai sobrar de velhas "amigas" à diesel.
É.. Outra coisa, já pode retornar aquela roda de chimarrão nas casas de insumos e revenda de máquinas na fronteira do Rio Grande Amado, companheiros alegres e barulhentos já poderão ser vistos por ali. Faceiros contarão como colheram, milhares de sacas, aliás, o IRGA, informa no site que Dom Pedrito tem 7,5 t\ha, passou o Vale do Itajaí, luz amarela para eles, viviam se achando, ainda falta um pouco Rio do Sul tem 10 t\ha.

De novo, na semana de Expointer, nem pense em ligar para eles, camionete nova, chimarrão/térmica inóx, boné (marca de trator moderno) estarão zanzando pelo parque. Cansados do êxtase das máquinas, GPS nelas também, voltarão para seus veículos que estarão cobertos por "santinhos" de hotéis, churrascarias, dancing, shows, promoters e tudo mais da capital.
O gráfico dos preços mostra altos e baixos, eles não tão nem aí, aproveitam o hoje que é bom, o passado passou e o futuro não se sabe.

Esperemos a manchete “Récord na venda de máquinas” ahahahahahah.

Lei da cidade grande


Você pode viver na cidade grande, mas tem uma coisa, precisa obedecer às suas regras.

Na rotina diária, um dos problemas é o deslocamento em regiões centrais e bairros próximos. Um proprietário de automóvel, sofre, vaga na rua representa, uma interessante interação com o virtual dono do lugar, o flanelinha. Ele, por assim dizer, terceiriza uma parcela da via pública, esperto você lhe dará um aceno de positivo, é melhor assim, depois, claro vai deixar algum, não muito pouco, se ele disser, “não vai fazer falta”, trate logo de aumentar a oferta. É melhor ser esportivo, é um tipo de contribuição social, ele tem de ser remunerado, pensa que é fácil tomar conta de um lugar “bom”. Chega cedo, carregado de mochila, sanduba, garrafa térmica de café, a renda de uma quadra da avenida Anchieta, perto da Praça da Ucrânia, deve alcançar uns vintão por dia. Ora, por R$ 1,00, tem almoço no centro, então compensa o trabalho de ralar o dia inteiro por ali.
Outra regra fundamental é conhecer, e bem, o transporte publico. Aqui precisa entender a terminologia do sistema.



De pronto chama atenção aquela longa avenida deserta, passam estranhos veículos, ônibus, claro, são os famosos bi-articulados, gigantes, mesmo. Só podem ter uma rua inteira para eles, a canaleta. Passam de cinco em cinco minutos, param em todos os tubos. Guarde este nome, tubo, é aquela estação em forma de salsicha, é muito boa, protegida da chuva e do assédio geral que inferniza a vida nas cidades. Não é bom estar lá depois dos jogos de futebol, grupos de jovens passam atirando pedras, já ouviu falar dos holigans, aqui tem uma versão deles. Estes holigans residentes atuam antes dos jogos, da mesma forma. Neste momento aqui no terminal um grupo cantando derrubou na rua a janela de emergência do vermelhão. Viaturas de vários tipos de autoridades, PM, policia civil e guarda municipal apareceram, bafão geral, acabou a cantoria.
Entrar no bi-articulado requer uma observação cuidadosa, em frente às portas formam-se duas filas com um espaço no meio, quando a porta abre, aquele espaço do meio é da turma da descida, os que sobem esgueiram-se nas duas laterais. Mesmo que aparentemente tenha acabado a fila da descida, não se aventure no terreno do meio, se houver um retardatário para descer, ele vai, assim mesmo, empurrar você para fora, é assim que funciona. Lá dentro trate de pendurar-se em algum lugar, nem se cogita sentar, os poucos bancos são para idosos e mulheres com crianças ou grávidas.
Estes ônibus especiais param, também, nos terminais, pontos de convergência de outras linhas, inclusive as não tubadas, que são alimentadoras do sistema.



Um terminal que eu conheço tem um túnel para pedestres conectando os dois lados da estação, passe rápido nele, é totalmente insalubre, fumaça de cigarros, cicletes de décadas atrás, iluminação precária, ventilação forçada não existe, vários vendedores gritando, classic é um reau, pão quejo um real, as escadas sujas, muito sujas e, rematando, o piso daquelas pedrinhas brancas e pretas onde é impossível varrer ou manter limpo. Tem um vendedor de CDs ou DVDs que estende um plástico de vários metros de comprimento por dois de largura espalhando em cima os produtos, uma vez na pressa da manhã, aquele aperto, eu vi o que parecia um espaço livre e embalei por ali, escorreguei nos CDs em cima do plástico liso, saí dizendo vários palavrões. O dono dos CDs não viu mas uma mulher gritou, “tio um homi pisou aí em cima, quase caiu” entrei no meio do povão e me mandei. O terminal tem uma concepção arquitetônica muito simples, não condiz com a cidade e “seu moderno sistema de transporte” como estamos acostumados a ver na imprensa, o túnel, então é desapontador.

Na viagem ouvimos música clássica, violinos, e gravações indicando a próxima estação e “cuidado com furtos no interior do veículo”. Como as passagens são pagas nos Tubos, os veículos em sí, são relativamente seguros, raramente aparecem aqueles espertinhos dizendo que precisam “inteirar” 20,00 para ir a um lugar qualquer

terça-feira, 1 de abril de 2008

Lei do Boi.......inclusão social de antigamente

Meu pai tinha um projeto, comprar terra, “quatro quadras de sesmaria”, sonhava, era arrendatário. O plano da mãe era educar os filhos, tinha estudado num colégio de freiras, sabia como era.
Muita energia, e dinheiro mesmo, foi gasto com o estudo dos guris. Alfabetização, em casa, não havia escola no Seival daquele tempo, uma tia improvisava uma classe, vizinhos vinham , em petiços o apelido para os cavalos pequenos.
Depois, escola ferroviária, na Bomba de Candiota, 60 km de Bagé, acesso por trem, classe geral, vários níveis numa mesma sala. A professora morava na escola, era solteira. Episódio inesquecível foi uma visita do padre, única em quatro anos, rezou missa, confessou, grande cerimônia e intensos treinos de versos e comportamento para ele ter uma boa impressão.
Cumprida a fase do primário o que fazer, a mãe insistia na continuidade da educação, naquele tempo não se cogitava em alugar casa ou apto. Mas havia uma solução, o Seminário, padres e freiras havia muitos na família. A regra da colônia era, filhos mais velhos estudavam o primário e ficavam em casa trabalhando, valia o mesmo para as filhas. Os mais novos iam para o seminário, no caso masculino. Tinham sorte, trabalhavam pouco, só nas férias, e estudavam filosofia e teologia. Assim, um dia, eu e mais dois irmãos, fomos com o pai direto na casa paroquial de Bagé para uma entrevista. “Que interessante, os três tem vocação” disse o padre André, meu pai retrucou, o irmão dele era padre e duas irmãs freiras, havia um precedente religioso a ser considerado, tínhamos sofrido “influência”. Ficamos cinco anos, li coleções inteiras de livros clássicos e de historia romana, grega e outros. Nomes como Voltaire, Russeau, Maquiavel, Da Vinci, Michel Angelo, imperadores romanos eram comuns. Latim, francês, teatro, oratória, trabalho voluntário, futebol com os presos em Bagé, tudo era parte da formação.
Fatalidade o Seminário fechou, um conhecido da família sugeriu o Colégio Agrícola de Pelotas. Fui, de ônibus, me inscrever, passei a noite numa pensão da frente da rodoviária, ali perdi, uma famosa correntinha de ouro presente da tia. Tinha uma espécie de vestibular, um dos critérios era a Lei do Boi, apelido para a inclusão social de antigamente, filhos de agricultores pobres tinham precedência não lembro que nível. Mais três anos, saímos formados técnicos agrícolas.

Na continuidade, vestibular, para agronomia na UFpel, outra vez a Lei do Boi, funcionou, lembro de certidões dos sindicatos rurais, o pai não tinha terra, arrendatário, como disse antes. Todos os irmãos que foram para o Seminário saíram formados na UFpel, dois entraram na tal lei.
Bem mais tarde, com um casal de filhos, 5 e 7 anos, “entrei numas” de que eles tinham de ter uma formação tão boa que pudessem passar no vestibular de alguma universidade federal. Era o meu propósito. Desta forma iniciou um tipo de “treinamento”, estudos extras de idiomas, computadores, internet, música, leituras diversas e xadrez. Para dormir, todos os dias, um dos pais lia histórias infantis. Minha família era sócia de uma locadora de livros, obras e mais obras, viviam empilhadas nas mesinhas de cabeceiras. Tudo isto, claro, somando com o melhor colégio da cidade, era o mínimo. A formação incluiu intercâmbio no exterior e viagens diversas.

Deu certo, os dois inscreveram-se, uma única vez, na universidade federal de Santa Catarina e conseguiram vaga nos cursos escolhidos, desta vez por seu próprio esforço, na oportunidade não se falava ainda em modernos tipos de inclusão social.

Neste 28 de março, rolou festa geral, mestrado e graduação.

O pai, idoso, não veio, mas seu projeto está completo, tem as “quatro quadras de sesmaria”.

A mãe, também não pode vir, tem um corredor da casa com as fotos dos filhos formados, dos netos formados, todos naquela roupa preta com chapéu representando o curso.
Sabemos, o primeiro compromisso de cada formando é mandar a foto para ser incluída na “galeria”. O projeto andou bem.

Duração desta história: 56 anos.