segunda-feira, 9 de junho de 2008

MEIA LUA CRESCENTE

Gauchinho da fronteira aventurou-se na praia, sem prática, passou manhã em alegre função, sol e mar. Não era costume ficar em atividade, com pouca roupa, naquela olheira de sol. De certo é assim mesmo, achou graça naquela moçada, biquínis lindos, sentia atração pela “parte de cima” .
Parecia que ia ficar bonito, igual aqueles exibidos residentes. Vindo de campos, quando tirava a camisa parecia um nobre inglês, sangue azul correndo em veias salientes na pele branquela. Não tava dando certo, depois do banho, explodiu a realidade cruel, queimada completa,de segundo grau. Febre, dor, solução “local” passa vinagre, caladril, foi por fim levar um puta xingão do medico do pronto socorro. Pagou geral, quase uma semana, de água mesmo conhecia os banhos de açudão em final de tarde.
Ressabiado, agora trata o mar como numa guerra de guerrilha, saí para o banho e logo se enfurna em quiosques, guarda-sóis, varandas de bar. Aprendeu o valor das camisetas e chapéus, não importa a moda, o que interessa é proteção. Até pegou ponto, aprendeu a lidar.
Habitué, na altura do quiosque número oito. Ficou chegado com o sistema. Batata, batata, batataaaa, é picolé....., cerveja, coca, água, sanduíche natural. Todo dia baiano, cabelo rastafári, oferece tatoo, tatoo, hena, hena. Um álbum com amostras de desenhos, dragão, borboleta, beija-flor, rosa, hummm. Não gostou dos modelos, presunçoso, alegou, já tenho muitas marcas, da vida. O baiano deixou para lá, cansado de “turista faceiro”. É assim, insistiu, fui pisado pelo cavalo, em cima da alparagata, dedão sem unha, feio. Peito afundado, passou uma carroça em cima, salvo por milagre. Foi abrir um caroço de pêssego e a faca cravou na palma da mão, coisa de guri. Dedo mindinho, torto, trator sem direção hidráulica deu um safanão quando a roda atingiu um cupim. No colégio tinha apelido de “pé de matar formiga em carreiro” um pezão largo e comprido, de tanto andar descalço no meio do barro da lavoura de arroz. Braços e rosto tomados por sinais, o pessoal dizia que eram “manchas solares”, agravou-se a situação até que um médico mandou “destatuar” o homem. Num inverno brabo a tia foi botar água fervendo em uma garrafa para aquecer a cama, a garrafa quebrou e derramou água fervente em cima dos dois joelhos, produzindo copiosa lesão.
Chegamos, então, no caso de um boi que refugou na entrada da pêra e atropelou levando tudo por diante. Era um pampeano brasino, aspado, tipo guzerá, passou num pulo assustador bufando, na confusão o braço esquerdo do companheiro levou chifrada. Ralou em curva a pele, deixando larga marca registrada. A meia lua crescente, sinal da lida, espécie de tatuagem rústica, não apaga nem com laser. Agora o gauchinho, não anda sem camisa, tem vergonha do peito afundado, em compensação só camisa sem manga, capaz de percorrer shoppings inteiros para achar uma bonita, tem de realçar meia lua crescente no braço esquerdo, começa na ponta de cima do bíceps e percorre lateralmente o encontrar o tríceps, explica orgulhoso.

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