segunda-feira, 4 de agosto de 2008

ELEGÂNCIA VEGETAL

“Você não tem um hobby”, disse o meu filho. Ele afirmava que eu devia me preparar para a aposentadoria, ter alguma coisa para fazer. Não tinha mesmo.

Todos os anos, no inverno eu partia para uma tarefa específica, podar as plantas da casa do meu pai, 800 km até a fronteira do Uruguai. Muitos tipos de fruteiras e mais outras para sombra e mesmo ornamentais. Completava o serviço no verão com mais cuidados. Também me iniciei no plantio e acompanhamento de várias espécies. Recebia telefonemas, as parreiras estão no ponto, pode vir podar, tem muito mais serviço. Peguei prática.

De repente era um hobby, agora tenho saudade das árvores que plantei, as minhas árvores. Retorno e visito as companheiras, cuido delas, vejo como se desenvolveram, acerto tendências, limpo os pontos de contaminação, focos de insetos. Desenvolvemos o conceito de elegância vegetal, gostamos delas sempre bonitas.

Sempre que vou visitar um amigo, sem avisar levo a minha tesoura importada, japonesa, aço fino e um serrote especial. Ficamos por ali conversando e tomando mate, eu, claro imediatamente avalio o jardim e quintal. Assim como por acaso pergunto, quem sabe dá uma “ajeitada” naquela velha bergamoteira. Pronto já arrumo atividade e passo horas na empreitada.

Meu compadre, casa nova, grande quintal recheado de espécies para fruta e embelezamento, avisou “pode vir num fim de semana, já garanti um vinho de boa safra”. Imagine, terminou o expediente na sexta-feira, minha “assistente” passou de carro e zarpamos para o Oeste, 540 km, chegamos tarde da noite.

No dia seguinte cuidadoso ritual, primeiro o tal chimarrão, cadeiras no gramado, enquanto rola uma conversa tranqüila analisamos preliminarmente a situação. Antes de iniciar a poda é preciso contextualizar, reparar o conjunto, o papel que aquela planta exerce no sítio, quintal ou jardim.
Depois do café, chega o momento da ação. Trazemos as ferramentas, luvas e óculos de proteção. Alegres e dispostos combinamos a sequência, da entrada da casa para o fundo do quintal. Primeiro duas laranjeiras, iniciamos limpando todos os ramos baixos, atravessados, mortos e doentes. Depois um “clareamento” da copa, ficando bem arejada. Em seguida nos afastamos para olhar, qual artista para contemplar sua obra, e arrematamos com típicos comentários do tipo “ficou bem bom” e coisas assim. Desta forma vamos passando em várias árvores, sempre uma abordagem diferente para cada tipo, estado atual e estimativa de produção. E tome expressões “vai produzir muito”, “agora vai se recuperar”, e outras sempre se achando.

Complicou um pouco a falta de escada, custou quase uma tese para desestimular o compadre que fez uma espécie de escada de corda para empoleirar-se num araçazeiro. Sendo um alto executivo eu não queria que ocorresse qualquer tipo de acidente, destes que a gente vê na imprensa e que prejudicam a carreira de muitas pessoas.
Deu certo completamos o trabalho já passando o meio dia. Logo chegaram tábuas de frios delicados e gelada cerveja. O vinho fino ficou para o jantar.
Este é um hobby, digamos assim, físico, de atividade, interação com o ambiente e as pessoas.
Tenho, também, um hobby intelectual, escrever, só que este é solitário.




3 comentários:

Gelsa Helena disse...

Mto divertido passsar aquele fim de semana com o compadre e a comadre,enquanto a poda das árvores ia sendo feita!!Baita serviço!!Mas parece que dá mais prazer que capinar um eito...hehehehhe bjo

Luiza disse...

Como assim, tio querido!
Você não tem hobby? Além de podar árvores você escrever.
Escrever é um hobby! Você manda muito bem. Quem sabe não vira cronista de jornal. Tens o meu apoio. Um beijão, LU.

Anônimo disse...

Mas traga tua tesoura importada, japonesa, aço fino e um serrote especial para conhecer o novo (e precário, é certo) jardim da família Heheheh.

Beijinhos
Sandra