terça-feira, 27 de maio de 2008

VIAGEM NÚMERO 57



Concorrência na empresa, entrevista, curriculum, amostras de trabalhos produzidos. Competição de verdade, mas ao final deu certo. Ajusta situações, analisa, e me instalei na Ilha de Santa Catarina, bem contente, mês dezembro. Queria outro lugar, imediações do centro, fui voto vencido, acontece que a proximidade da universidade pesou, e depois, disseram “veja que legal o Titri é ali” bom para mim eu poderia ir de ônibus.

Tinha um propósito de ir acompanhando os acontecimentos da ilha, visitando os restaurantes, locais típicos, passando alguns dias em cada praia, tudo com calma. Fizemos desta forma.
Verão muito louco, três meses beirando 35 graus, no geral. Mas chegou o outono, um dia passando pelo mercado público, confusão, empurra daqui e tal, é que tinha acabado o “defeso” do camarão, vale dizer liberou a pesca do ano. Todas as bancas cheias desta paixão dos catarinas, fresquinhos, grados. Uma festa geral, claro levei uns quilos, no bafo leva uns dez minutos, acompanha cerveja bem gelada.

Previsão do tempo, frente fria pode trazer neve ou geada. Confirmou, era princípio de maio, junto com o frio vieram as tainhas. Primeiro cardume “encostou” em Ingleses, milhares, cobertura da TV e tudo. Foi um mês de festa, é mais um amor local, ta ali correndo firme com os camarões e curiós. No mercado é que tem notícia se a safra é boa, se é grada, ovada essas coisas. Os pescadores da ilha insistem a tainha deles é que é boa, pescada na beira da praia, não fica uma semana no porão das traineiras que descem até a barra da lagoa. Não precisa correr ao mercado, simplesmente todos os restaurantes incluem este peixe no cardápio, com sorte você encontra uma tainha assada com recheio especial da ova e temperos secretos.

Meados de maio, “o que tá dando agora é enchova”, pode ser, em todos os restaurantes tem grandes cartazes enchova grelhada para duas pessoas R$ 19,99. Reza a lenda, enchova só em mês sem “r”.

Não há bem que sempre dure, na empresa, a “rádio corredor” fervilhava de nervosos boatos, nossa unidade corria perigo, falava-se em “reestruturação”, palavra provocadora de calafrios na moçada. Entendemos o porquê, nosso local de trabalho era a praça xv de novembro de Florianópolis, ninguém vai embora assim. Então, o que pode dar errado dá, entrou junho e veio mensagem informando, vai fechar a unidade. Tinha reunião pela manhã, choradeira geral, reunião à tarde mais choradeira. Eu não tive dúvida, vou para Curitiba, mas para grande número de colegas foi muito difícil. Esportivo, aluguei base provisória num antigo hotel, bem na Boca Maldita, já era a primeira semana de agosto. Foi muito bom, a Boca é o coração da Urbe, ali refletem as mais diversas ocorrências e manifestações. Todo dia depois do expediente eu zanzava um pouco pela região, visitava a livraria, uns sebos, li oito livros.
Nesta época eu viajava todo o fim de semana para Florianópolis, de ônibus, no horário das 18:30 às sextas e voltava no domingo. Vasculhava todas as semanas as ofertas na ponte aérea mas nada. Começei a contar as viagens, durante a semana no trabalho ficava dizendo fiz minha viagem numero 35, ou mais, cheguei a 57. Meu local preferido era a primeira fila, na frente da grande janela, ia acompanhando as manobras e acontecimentos que fazem da estrada uma entidade muito especial. Deu tempo de ver que pessoas faziam regularmente o trajeto. Chamou a atenção os efeitos da grande crise dos aeroportos, empresários e outros viajantes vinham de avião de São Paulo, continuando de buzao até Florianópolis. Então a gente escutava coisas estranhas para o lugar, pessoas dizendo, “a holding ta com orçamento apertado”, ou semana que vem nos encontramos em Nova York, nosso relatório de vendas tem uma diferenças de vinte milhões este mês e coisas assim. Um dia um companheiro de estrada dormiu, e o celular tocou, a chamada era uma expressão com um palavrão, mais ou menos assim “chi lá vem m...” começou baixinha e aumentou de volume a turma escutando os palavrões com surpresa. Uma passageira ficou, algo como 45 minutos discutindo a relação, falando sobre emoções, o pessoal sonhando com aquele aparelho que desliga os celulares. Tem também uma turma que vai com notebooks e acende as luzes, fica do seu lado naquele tec tec, virando a tela para vc não ver, quase ofensivo.

Eu reparei que fazia parte de um novo grupo de nômades, diferentes, estes nômades modernos, não se mudam, eles percorrem grandes distâncias toda a semana e voltam para suas casas.




2 comentários:

Anônimo disse...

Vai dizer que não morre de saudades do TITRI???
adorei as anedotas de viagem!
e veja pelo lado positivo... seus dias de nômade acabaram!
Um beijão da Rê

Anônimo disse...

Muito boa essa crônica (como quase todas)! Visualizei passo a passo sua lida com as transferências. Mas, adorei especialmente o comparativo entre camarões, tainhas e curiós... ehhehe

Beijos
Sandra