quarta-feira, 30 de abril de 2008

"Posperidade"



Hoje é muito comum ver caracteres japoneses em carros, camisetas, pastas escolares e tatuagens. De certa forma está na moda, assim como os pratos e sabores oriundos do Japão. Nesta linha vamos acompanhar a experiência que contamos em frente:

Feriado legal, a turma se mandou para Sampa, aproveitando ofertão casado, passagem na madrugada e hotel fino na baixa temporada.
O motorista do micro-ônibus,”sou o Ceará”, disse, simples, não conhecia a cidade, tava quebrando um galho, a firma não tinha outro. Alta noite parou, ali perto do Jockey e perguntou por um hotel num edifício grande. Gerou uma fúria expressa, foi mandado parar no pátio de um Supermercado e esperar o guia, aí sim do hotel, fomos comboiando. Chegando lá o Ceará ficou brigando com os equipamentos, o banho foi um caso, abria uma torneira e era água fria, tentava a outra e saia água muito quente, tomou banho frio dois dias ahahahah. Outra coisa, dividia o quarto com o guia da empresa de turismo, outro que não conhecia a cidade, tinha ido para ver como funcionava. No início tinha duas toalhas uma de rosto e outra de banho, como era, pequeno, se podemos nos expressar assim, pensou que a toalha de rosto lhe cabia por esta condição. Na seqüência dava risadas gostosas dizendo que um pessoal tinha esquecido bebidas numa geladeirinha, que sorte, pode isto? Bafão geral, motorista e guia sem prática, reuniu-se petit comitê, decisão: queremos outro guia, um que conheça a cidade. No outro dia chegou o prático, fora do padrão, parecia com um malandro, tinha uma ginga, falava gíria, cabelo alisado, gel e óculos escuros, sempre, dia e noite. Santo remédio, conhecia cada beco, arranjava estacionamento, ia passando pelos lugares, fazia sinais para os “donos da rua”, tipo assim, “vamo aliviá aí pessoal, eles tão comigo”.
Turma ligada na educação, o programa incluía, museus, pinacoteca, obras e mais obras, quadros, esculturas, literatura o dia todo. Eu de pirú, sempre de olho em botecos com aquela encantadora torneira dourada onde se enchem canecos de chopp e coisas assim. No terceiro dia fomos premiados: numa famosa esquina da Av São João havia um point com as tais torneiras, fui obrigado a chegar, tirar foto, e, beber uns copos gigantes de um refrescante chopp.

Nas “vagas” da agenda cultural, uma passada no centro velho, minhocão, Igreja da Luz e compras na 25 de março. Sem gosto por estas aglomerações, atendimento sem qualidade, nem pensei em negociar coisa alguma. Quando descobrimos que o mercado público era ali perto zarpamos direto. Gastamos um tempo nas bancas cheias de temperos do mundo inteiro, e mais aquelas bobagens todas, pastel de bacalhau, sanduíche de mortadela e depois aquela fatia de abacaxi cortado na hora, doce, muito doce.

No domingo de manhã alguém sugeriu: gente tem a feirinha da Liberdade. Foi o que bastou, nosso guia foi direto, era um programa dos mais simples, ele tava com os nervos em cacos, na noite anterior, de improviso, ele teve de achar uma pizzaria no Bexiga, todos palpitavam, essa não é boa, parece muito cara, sei lá o lugar, cabem todos, tem estacionamento. É que tínhamos ido ao teatro, lindo lugar, artista global, quando acabou, ninguém quis ir dormir, daí resultou o desgaste do guia para arranjar um lugar para jantar. Deu certo a idéia da feira, não tinha sido minha, havia um acordo tácito, só as mulheres mandavam, havia dois maridos, um professor e o guia iniciante, não tivemos condições de competir. Primeiro zanzamos pelo bairro, simpático lugar com o calçadão de luzes que sempre aparecem nos postais. Na feirinha todos se dispersaram, interesses diversos, comprando quinquilharias em geral, canecas, camisetas, chaveiros, ímãs de geladeira(verdadeira salvação de pobres excursionistas), de resto é o que fica de tantas aventuras.
Era numa pracinha, logo, os grupos começaram a cruzar, você ouvia “olha o que achei”, entre eles correu notícia “tem um monge budista que escreve o seu nome e uma oração, naqueles caracteres nipônicos”. Ele usava quimono preto, e aquele banda em volta da cabeça com alguma coisa escrita. Na verdade ele vendia um marcador de livro, podia ser vermelho ou preto. Em sua frente ele escrevia uma oração no marcador, perguntava o seu nome e rabiscava mais uns caracteres. Depois ele olhava para o freguês e dizia o que significava. Na fila eu fiquei cuidando como funcionava o sistema. Se a pessoa era idosa ele dizia, exe aqui hamonia, se jovem, exe aqui posperidade, meia idade, exe aqui paiz e assim levava dez reais cada marcador. Tenho o meu até hoje, é “posperidade”, exigi, ele queria me dar um de paiz, na minha ignorância em caracteres, parecia que ele desenhava as mesmas coisas e dizia o que cada um queria ouvir seguido de uma reverência. Sabe o que acontecia, todos saíam, felizes da vida, abanando o marcador de livro esperando secar a tinta.

Falei que a excursão era “em conta”, embarque em Guarulhos, seis horas da manhã. Calcule hotel no Morumbi, uma hora de ônibus, mais uma hora antes da saída, resultou em acordar três da matina, camarada o hotel serviu um café expresso numa salinha à parte. Mas valeu pela aventura, muito boa, na volta as pessoas diziam: vamos de novo, agora para outro lugar. Fiquei quieto, sei que isto não funciona, quando foram organizar um outro roteiro, nada mais combinava, claro é assim mesmo.

Viram o marcador de livro acima, é para estar escrito o meu nome e “Posperidade”, se alguém quiser colaborar e indicar que tipo de oração está registrado será bom.



3 comentários:

Anônimo disse...

Oi Paps!
mais uma ótima crônica!
A parte que mais gostei foi a dos ímãs de geladeira... pra quem não sabe a nossa é cheia deles, dos mais diversos lugares... vários cantos do mundo, vários ímãs de geladeira...
mas é uma salvação mesmo pro turista pobre... fazer oq né? os outros souvenirs estão realmente fora do orçamento....
e você nem contou das camisetas que cada um dos filhos ganhou dessa visitinha à liberdade, outra salvação de turista pobre... em cada camiseta uns caracteres de posperidade, ou paiz... até hoje não sei qual que eu recebi... mas acho que é seguro dizer que posperidade é que não foi... hauahauahauh
beijão

Anônimo disse...

Aliás, o que tá escrito no marcador não é o mesmo da minha camiseta?
HEehhEehhehe

Abraços,
Gus

Anônimo disse...

Quando olhei a foto de D. Pedrito ,bateu uma saudade...... Lina!!