sexta-feira, 11 de abril de 2008

Lei da cidade grande


Você pode viver na cidade grande, mas tem uma coisa, precisa obedecer às suas regras.

Na rotina diária, um dos problemas é o deslocamento em regiões centrais e bairros próximos. Um proprietário de automóvel, sofre, vaga na rua representa, uma interessante interação com o virtual dono do lugar, o flanelinha. Ele, por assim dizer, terceiriza uma parcela da via pública, esperto você lhe dará um aceno de positivo, é melhor assim, depois, claro vai deixar algum, não muito pouco, se ele disser, “não vai fazer falta”, trate logo de aumentar a oferta. É melhor ser esportivo, é um tipo de contribuição social, ele tem de ser remunerado, pensa que é fácil tomar conta de um lugar “bom”. Chega cedo, carregado de mochila, sanduba, garrafa térmica de café, a renda de uma quadra da avenida Anchieta, perto da Praça da Ucrânia, deve alcançar uns vintão por dia. Ora, por R$ 1,00, tem almoço no centro, então compensa o trabalho de ralar o dia inteiro por ali.
Outra regra fundamental é conhecer, e bem, o transporte publico. Aqui precisa entender a terminologia do sistema.



De pronto chama atenção aquela longa avenida deserta, passam estranhos veículos, ônibus, claro, são os famosos bi-articulados, gigantes, mesmo. Só podem ter uma rua inteira para eles, a canaleta. Passam de cinco em cinco minutos, param em todos os tubos. Guarde este nome, tubo, é aquela estação em forma de salsicha, é muito boa, protegida da chuva e do assédio geral que inferniza a vida nas cidades. Não é bom estar lá depois dos jogos de futebol, grupos de jovens passam atirando pedras, já ouviu falar dos holigans, aqui tem uma versão deles. Estes holigans residentes atuam antes dos jogos, da mesma forma. Neste momento aqui no terminal um grupo cantando derrubou na rua a janela de emergência do vermelhão. Viaturas de vários tipos de autoridades, PM, policia civil e guarda municipal apareceram, bafão geral, acabou a cantoria.
Entrar no bi-articulado requer uma observação cuidadosa, em frente às portas formam-se duas filas com um espaço no meio, quando a porta abre, aquele espaço do meio é da turma da descida, os que sobem esgueiram-se nas duas laterais. Mesmo que aparentemente tenha acabado a fila da descida, não se aventure no terreno do meio, se houver um retardatário para descer, ele vai, assim mesmo, empurrar você para fora, é assim que funciona. Lá dentro trate de pendurar-se em algum lugar, nem se cogita sentar, os poucos bancos são para idosos e mulheres com crianças ou grávidas.
Estes ônibus especiais param, também, nos terminais, pontos de convergência de outras linhas, inclusive as não tubadas, que são alimentadoras do sistema.



Um terminal que eu conheço tem um túnel para pedestres conectando os dois lados da estação, passe rápido nele, é totalmente insalubre, fumaça de cigarros, cicletes de décadas atrás, iluminação precária, ventilação forçada não existe, vários vendedores gritando, classic é um reau, pão quejo um real, as escadas sujas, muito sujas e, rematando, o piso daquelas pedrinhas brancas e pretas onde é impossível varrer ou manter limpo. Tem um vendedor de CDs ou DVDs que estende um plástico de vários metros de comprimento por dois de largura espalhando em cima os produtos, uma vez na pressa da manhã, aquele aperto, eu vi o que parecia um espaço livre e embalei por ali, escorreguei nos CDs em cima do plástico liso, saí dizendo vários palavrões. O dono dos CDs não viu mas uma mulher gritou, “tio um homi pisou aí em cima, quase caiu” entrei no meio do povão e me mandei. O terminal tem uma concepção arquitetônica muito simples, não condiz com a cidade e “seu moderno sistema de transporte” como estamos acostumados a ver na imprensa, o túnel, então é desapontador.

Na viagem ouvimos música clássica, violinos, e gravações indicando a próxima estação e “cuidado com furtos no interior do veículo”. Como as passagens são pagas nos Tubos, os veículos em sí, são relativamente seguros, raramente aparecem aqueles espertinhos dizendo que precisam “inteirar” 20,00 para ir a um lugar qualquer

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